domingo, 3 de fevereiro de 2013

O tempo da memória

      Tudo depende do momento que você quer guardar. A memória falha, mas, geralmente, é porque não houve interesse. Não quis guardar o nome, não quis aprender a matéria, não se interessou pelo fato, não houve sentimento algum a respeito. Nem bom, nem mal. É ai que chamamos de curta a memória e quando se trata de memória curta não tem exemplo melhor do que a memória da grande maioria dos brasileiros.
Se esquece muito rápido, mas muito rápido mesmo, de episódios ruins que deveriam ficar gravados na memória para que nunca mais se repetissem. Mas, é incrível como as pessoas esquecem. E quando o assunto é política, por exemplo, parece que nós brasileiros somos campeões. Quer ver?
      A cada eleição repetimos os mesmos erros. Dai, confortavelmente, muitos de nós acham que gastar o português ruim afirmando convictamente, como se fossemos os donos da verdade, que nenhum politico presta seria um sinal de que "somos" politizados - ledo engano. Na verdade não "passamos" de papagaios - papagaios não! Isso é maldade com o bichinho, já que o mesmo é capaz de memorizar tudo que dispomos a ensiná-lo.
      Se beber não dirija! Todo dia vemos e ouvimos histórias horrorosas de acidentes causados por conta da bebida, mas é impressionante o quanto e o tamanho da velocidade que a memória falha na hora que resolvemos tomar todas e, ainda assim, sair por ai arriscando a vida alheia. Porque da própria vida, me poupe, o cidadão, ou cidadã, já esqueceu faz tempo.
      Ah! Tem um exemplo muito bom. Os relacionamentos. Muita gente quando sai de um relacionamento que terminou mal, acusa o (a) ex e grita aos quatro cantos que nunca mais quer alguém com as mesmas características. Mas, quando não volta pra mesma pessoa, acaba, mesmo com algumas diferenças - pois ninguém é totalmente igual - fazendo escolhas muito semelhantes. Mas, ai alguém pode chamar de gosto ou mau gosto, eu chamo de reincidência e falta de vergonha, ou de memória e ninguém tem nada haver com isso, a não ser quando a pessoa volta a reclamar. Dai, todos opinam mesmo que essa opinião não valha nada.É uma espécie de ciclo, onde tudo é perdoado, ou não. Afinal, a memória é curta mesmo e o "coração é grande" e "desinterassado", talvez.
      No trabalho é a mesma coisa. Ninguém se interessa por nada e poucos estão ali pra trabalhar, ninguém presta atenção, o que importa é o salário no final do mês. Se perguntam pelo motivo de estar ali, as respostas são lindas. Mas, quando um erro acontece a eficiência em culpar o outro é maior que tudo. E logo, logo, tudo passa, todos "esquecem", a memória curta mesmo.
      A impressão que tenho é que todas as informações que recebemos ao longo da vida escoam por um duto cerebral que vai tão fundo, mas tão fundo no inconsciente que acabamos, de repente, acimentando as experiências que "não nos interessam" com uma tonelada de concreto. Até que seja conveniente salvá-la desse poço sem fundo.
      Sendo assim, o tempo da memória fica curto, ínfimo, um trisco talvez de algo que algum dia foi, mas que deixou de ser, por na verdade nunca ter passado de uma impressão sentimental, ou, quem sabe  de uma comoção unânime, ou de um evento individual que jamais significou algo de verdade.
      Já a saudade, o amor, o desejo e na maior parte das vezes a raiva, a dor, a solidão, a autopunição e a mágoa estão ali, "facinhas" de alcançar, as últimas mais do que as primeiras. Como se fossem janelas flutuantes no rio do nosso próprio tempo, capazes inclusive, de nos consumir com tanta voracidade que sequer percebemos.
     Viver ou morrer, amar, ou amargurar, neste caso, depende muito da memória que nos permitimos acessar. E qual memória você pretende acessar hoje?

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