Contar a história de Parauapebas a partir de fatos é algo que se torna fácil, quando optamos por relatar os acontecimentos e as datas, em que chegaram os primeiros grupos de pessoas convocadas para trabalharem na maior reserva mineral do mundo. Oficialmente, o ano em questão foi 1981. Nessa época a Estatal Companhia Vale do Rio Doce deu início à implantação do Projeto “Ferro Carajás”, em meio a um vale de um rio de águas rasas e turvas, habitado pelos índios Xikrins e Catetté. Nascia então, a Vila Parauapebas.
Mas, por mais oficial que seja, todo lugar tem uma história que é contada nas portas das casas, nas esquinas, nas praças e nos momentos de lazer. Realidades que encantam pela riqueza dos detalhes, pelos olhos mareados, pelas lembranças, pelas mágoas, pela alegria de ter participado de uma ocasião importante na construção de uma cidade que poderia ter sido em qualquer outro canto do mundo, em um ambiente menos inóspito, por exemplo, mas que era naquele momento para muitos, uma opção de vida e para tantos outros uma questão de sobrevivência.
As histórias dos distritos Rio Verde (DARV), Cidade Nova (DACIN), Bairro da Paz (DAPAZ) e Altamira (DACAL) a seguir, são contadas por verdadeiros pioneiros. Gente que trouxe em sua bagagem sonhos, esperanças e vontade de vencer. Cada um descreve à sua forma como foi a sua chegada e a inesquecível experiência de recomeçar a vida, em meio a Floresta Amazônica. Bastidores de mais de duas décadas em que se contabilizam perdas, ganhos e principalmente, hoje, a certeza de que aqui, é o seu lugar.
Pioneirismo – Certeza que demorou acontecer para alguns, como funcionário público Evilásio Pereira. “Eu não acreditava que Parauapebas cresceria tanto, quando eu percebi que a cidade estava desenvolvendo, eu já tinha mais de dez anos morando na área.”
O senhor Evilásio nasceu em Barra do Corda, município maranhense. Chegou a Parauapebas em 1980, após ter sido recrutado em Marabá para trabalhar no Projeto “Ferro Carajás” pela empresa Odebrecht. Ele lembra exatamente o horário que chegou à área. “Às dezesseis horas. Eu e mais 43 companheiros contratados para trabalhar na construção da Vila. Nunca imaginei que aquele era o primeiro dia de tantos anos vivendo nessa cidade. Eu vim pra trabalhar e só pensava nisso.”
Outros ônibus chegaram em seguida e mais pessoas desembarcaram no canteiro de obras da Cidade Nova. Todos contratados pelas empresas que participavam da construção das futuras instalações dos funcionários da estatal mineradora. Um núcleo urbano planejado com sistema de abastecimento de água, hospital (“SESP”), colégio (“Euclides Figueredo”) e delegacia. Segundo o senhor Evilásio, eram cerca de 1200 lotes entre as ruas “A” e “N”, que tiveram a terraplanagem concluída ao final de 1981.
Os imigrantes, o Rio Verde e a saga de um povo
Paralelo à construção da Cidade Nova, do outro lado do Igarapé Ilha do Coco, centenas de pessoas vindas de todas as partes do país montavam suas casas e comércios feitos de palha, lona e madeira. Formava-se a partir daí, um povoado também ligado ao município de Marabá, batizado de Rio Verde. Ao contrário da Cidade Nova, o Rio Verde não tinha nenhum planejamento. O povoado era conhecido pela violência e prostituição. Uma fama ruim, mas comum às cidades que nasceram em volta dos garimpos.
Em 1986, o repórter da Revista Afinal, Valdir Sanches descreveu o nascimento do Rio Verde da seguinte forma: “Um homem chegou às margens do Rio Verde, no Pará, construiu um casebre de madeira e pôs nele três mulheres. Estava fundando uma cidade e não sabia” (Agosto,1986, Afinal). Na mesma reportagem ele citou que o Rio Verde, “um povoado irreverente”, seis anos após a data em que a história conta ter-se iniciado a construção da Vila Parauapebas, teria cerca de 25 mil habitantes e espantosamente, 220 prostíbulos. Ele menciona inclusive, o nome das casas mais famosas: “Sorriso da Noite, Jardim do Amor, Carajás e La Licórnia”. Havia também o Clube dos Solteiros, segundo Valdir Sanches, “um lugar chique, com strip-tease e churrasco gratuito aos domingos”.
Um tempo em que Parauapebas era chamada de Paraopebas, ou Piropebas, porque as pessoas tinham dificuldade em pronunciar o nome correto da vila. Aliás, esse era o nome de um armazém de secos e molhados que ficava no Rio Verde e que também, servia de dormitório. O armazém pertencia à Giussep Ruccica, um siciliano que trouxe a família de São Paulo em 1982.
Segundo Rogério Alexandre, filho de Giussep e Maria Cleide, a viúva, o Armazém e Dormitório Piropebas pegou fogo em 1983. Os dois contam que o incêndio foi causado por uma vela. Na ocasião, a família perdeu tudo. “Até o dinheiro que agente tinha estava guardado no colchão, pois naquela época não tinha banco. Mas graças à ajuda de todos, conseguimos reconstruir nossa vida. Cada um foi sendo solidário a sua forma. A Casa Goiás, os madeireiros e as pessoas que nos conheciam. Um pouco de telha, um fogão, um colchão... E apesar das dificuldades, continuamos a viver em Parauapebas. De lá pra cá, não penso, nenhum momento, em sair daqui”, se emociona Maria Cleide. Ao contrário do primeiro dia em que sentiu vontade de correr, conta ela. Mas, ela não foi a única a sentir essa vontade.
A empresária Maria José Carvalho da Silva natural do Tocantins, nos disse que a sua chegada em Parauapebas foi um momento desesperador. “Olhei pros lados e vi aquele poeirão, aquela bagunça, chorei bastante”, relembra. Ela chegou em 1986 na companhia do marido e dos quatro filhos. “Meu marido perdeu tudo na Serra Pelada e estávamos em uma situação muito difícil em Marabá, quando soubemos de Parauapebas por uma senhora que nos aconselhou a vir pra cá. Cheguei aqui trazendo uma cadeira de cabeleireiro, a minha profissão. Não tínhamos nem o dinheiro pra pagar o aluguel da casa que ficava na rua B. Mas, quando coloquei a placa de ‘corta-se cabelo’ as pessoas começaram a aparecer, cada uma com uma história mais triste que a minha. Foi então que me conformei e naturalmente, o sufoco passou”, recorda Maria José.
Não demorou pra que o Salão Ele e Ela ficasse conhecido e Maria José conquistasse a simpatia de todos. A família ganhou dos administradores da Cidade Nova um lote na Rua I, tirando o peso do aluguel. Na mesma época Maria José participou de uma licitação para montar um salão de beleza em Carajás, onde passou oito anos. “Foi uma surpresa quando ganhei, pois concorri com salões maiores”, lembra Maria José.
Hoje, depois de muitos cortes e penteados, a empresária mudou de ramo. Mas, a exemplo de muitos que chegaram no início da construção da cidade, batalhou para conquistar se patrimônio. Ela nos conta que a cidade lhe deu momentos de alegria e de tristeza. Em 1998 perdeu o filho e na mesma época, o marido saiu de casa deixando-a só com os outros. “Minha vida ficou toda desestruturada e a duras penas consegui refazer minha história, principalmente porque as pessoas foram solidárias. Às vezes penso em sair daqui, mas desisto, porque firmei laços fortes com Parauapebas”.
O certo é que, atraídos pela grande oferta de trabalho e o sonho de enriquecimento, o número imigrantes aumentava a cada dia. As pessoas chegavam e ocupavam as áreas das fazendas. O próprio Evilásio resolveu morar no Rio Verde, quando começaram as primeiras invasões. Alugou uma “D10” e trouxe do Maranhão a sua família. Logo o Grupo Executivo de Terras do Araguaia-Tocantins (GETAT), na época coordenado por Carlos Henrique, loteou a área sob as vistas da Polícia Federal que cuidava da segurança.E não demorou muito para que as ocupações se aproximassem da Cidade Nova. “Essa chegada maciça fez com que a Vale, desistisse de construir o Núcleo Urbano na Cidade Nova e o construísse em Carajás. Foi então que, a empresa nomeou um funcionário chamado Francisco Brito responsável pela distribuição dos lotes para as pessoas que tivessem condições de construir, no prazo de 90 dias, suas casas de tijolos”, afirma Evilásio.
Seu Evilásio também conta que, o primeiro morador da Cidade Nova se chamava Antônio “Bucho”, o único do Rio Verde, na época, que tinha condições de cumprir as exigências de moradia. “Ele era dono de um “inferninho”, por isso não foi muito difícil construir a casa de alvenaria”, lembra-se sorrindo. De acordo com ele, as primeiras casas da cidade Nova, cerca de 60, foram construídas entre as rua C e D. “Nessa época lembro que no mês de fevereiro chegou a chover dezesseis dias consecutivos, o verão durava três meses, o resto era inverno e o Rio Parauapebas era lindo”.
Evilásio lembra também, que um dos primeiros comércios da Rua 14, foi a Elétrica Padrão que está lá até hoje, conservando a sua estrutura original. O comércio pertence a Hilton Alves Sousa, eletricista que chegou, segundo ele, em 1974 para trabalhar na empresa Meridional. “Fiz uma boa escolha, consegui mudar de vida, pois aqui não falta trabalho”, conta Hilton Alves.
A advogada Irenildes Soares Barata, primeira diretora do colégio Euclides Figueredo, lembra que o loteamento da Cidade Nova aconteceu da seguinte forma: A Rua A era destinada ao comércio; Os lotes da Rua B para as pessoas que faziam parte do quadro administrativo da Vila (médicos, enfermeiros e professores); Na rua C moravam militares e fazendeiros .
Ela também conta, que com a ajuda da equipe formada pelas professoras Januária, Estela, Betinha, Iolanda e Maria José havia, a preocupação com a formação dos alunos. “Nós saíamos da escola e matriculávamos os alunos que não tinham documentos. Não deixávamos ninguém de fora, nem mesmo os filhos das prostitutas que não eram matriculados pelas mães, porque elas tinham vergonha de sair do Rio Verde. Talvez o fato de hoje, Parauapebas ser um município premiado pelos órgãos da educação seja também, um reflexo dessa preocupação do passado”, afirma Irenildes.
Enquanto na Cidade Nova eram distribuídos os lotes, no Rio Verde o comércio crescia. Lá, concentrava-se a maior parte do comércio da região, eram armazéns, lojas de roupas, calçados, armarinhos, móveis, frutarias, etc. “Quem morava na Cidade Nova, tinha que comprar no Rio Verde, foi então, os comerciantes do povoado ganharam dinheiro e puderam comprar seus lotes na área considerada “nobre” e assim, a Cidade Nova foi tomando forma de bairro e se desenvolvendo”, explica Evilásio.
Infância - Uma das experiências mais marcante na vida dos pioneiros entrevistados foi a de Rogério Alexandre. Ele passou a sua infância na cidade. Pra ele, as maiores diversões daquela década eram em primeiro lugar, o rio que tinha a água limpa e era farto em peixe, onde “toda a molecada tomava banho, enquanto as mães lavavam as roupas”; em segundo, as castanheiras do Rio Verde e em terceiro, o cinema “Cine Uirapuru”, que ficava em cima de uma palafita sobre o Igarapé Ilha do Coco, em frente a ponte que liga, hoje, o Bairro União ao Rio Verde. “Era um ambiente rústico. À noite eles colocavam o som na rua, pra fazer a propaganda dos filmes, agente assistia aos filmes de karatê. Era dentro do Igarapé, lembro como se fosse hoje”, afirma Rogério. O cinema também foi instalado no Rio Verde e ficou conhecido por muitos, pelo nome de Cine Capri.
O primeiro Banco da cidade foi o Bamerindus, hoje Basa, no mesmo lugar funcionou a rodoviária, uma igreja católica e um colégio. O primeiro supermercado da Cidade Nova foi o “Terra Seca”, no mesmo lugar está o Supermercado Alvorada. A própria prefeitura teve algumas moradas A primeira na Rua E, antiga Fasc, hoje SEMAS. Depois passou pra Rua D e por fim, na atual administração, a prefeitura mudou-se para Rua E nº 75, próximo da portaria da Vale. Todas as sedes eram na Cidade Nova e talvez por isso, existia, na época, certa briga entre os moradores dos dois bairros. “A Cidade Nova era a preferida dos prefeitos, todas as obras importantes eram feitas lá”, conta Evilásio. Exagero ou não, ainda dá pra sentir na voz dos pioneiros dos dois bairros, o clima de disputa e mágoa.
A revolta dos garimpeiros
Em 1984, uma revolta comandada por garimpeiros, deixou a cidade em “Estado de Sítio” durante uma semana. Nesse ano a área tinha apenas um delegado e mais cinco soldados.
A revolta aconteceu por causa do ouro da Serra Pelada. Os garimpeiros queriam manter o direito de exploração, negado a partir do momento em que a CVRD requereu, junto ao governo federal, por meios legais, o direito de exploração do subsolo. Na ocasião, eles tentaram invadir a Serra dos Carajás. Segundo o testemunho dos pioneiros Irenildes, Rogério, Evilásio e Maria Cleide, foi uma semana de muita tensão. Os garimpeiros queimaram a delegacia, a COSAMPA (Companhia de Saneamento do Pará), a sub-prefeitura e tudo que viam pela frente. “Nunca vi tanta gente. À noite agente ouvia os tiros. Ficou difícil até pra conseguir o diesel pra abastecer os geradores, nessa época não tinha energia elétrica”, conta Rogério.
Irenildes Soares nos contou que eles não queimaram o colégio e o hospital porque houve muita conversa. “Eram oito lideres. Eu pedi muito pra que eles não queimassem o colégio. A cidade estava começando e foi muito triste ver a delegacia queimar, principalmente, porque nós participamos da sua construção. Mesmo assim, eles ameaçavam dizendo que, se o José Sarney Presidente da República, ficasse a favor da Vale eles queimariam tudo. Uma semana depois, com a ajuda do reforço policial o conflito chegou ao fim”.
A independência – O desenvolvimento de Parauapebas acontece principalmente, após a separação política de Marabá. Em 1984, surgiram os primeiros movimentos pela municipalização do povoado. Liderado por pioneiros, como administrador Francisco Brito, Evaldo da Opção, Walmir da Transrodovia, Mudubin, Dr. Wolner, Zé Nunes, Valdir Flausino, Márcio Dalfert, Manoel do Baratão e mais 20 pessoas, aproximadamente, o movimento de independência alegava que, apesar de todos os impostos gerados pela extração do minério e comércio local serem recolhidos por Marabá, o lugar estava abandonado. Somente após 04 anos de luta política Parauapebas foi emancipado, através da lei nº 9.443/1988 de 10 de maio de 1988.
Irenildes Soares Barata, também foi testemunha do plebiscito, ela lembra que esse dia foi maravilhoso. “A eleição foi no Euclides Figueredo. Todo mundo vinha votar naquela alegria, naquela empolgação e as pessoas votavam pelo Sim. O curioso é que algumas delas votavam várias vezes, não havia muita rigidez na fiscalização e quando foi no dia 10 de maio de 1988 o município foi emancipado”. Segundo ela, a entrega oficial do município aconteceu no pátio da escola, os representantes políticos de Marabá e de Parauapebas acertaram que, a partir daquele dia que todo funcionário da prefeitura de Marabá que prestava serviço em Parauapebas seria automaticamente incorporado ao quadro da prefeitura do novo município.
Em 1988, aconteceu também, a primeira eleição direta do município. Nela concorreram Faisal Salmen e o Dr. Wolner. O médico Faisal Salmen foi o vencedor da disputa dando início a administração municipal sucedida por Chico das Cortinas, Isabel Mesquita e atualmente, Darci Lermen.
Parauapebas é hoje, um município com mais de 130 mil habitantes. Comemorando apenas 20 anos de idade, a jovem cidade já tem seu próprio Plano Diretor. Está muito além do passado. Tem cinco agências bancárias, que são insuficientes pra atender a demanda de um lugar que comporta um número fantástico de empresas, sendo uma delas, a segunda maior mineradora do mundo. O comércio local continua a se expandir. A rede hoteleira não perde para as grandes cidades. O mais maravilhoso disso tudo é a extensa área verde que está em volta dela. São 411.948,87 (Quatrocentos e onze mil novecentos e quarenta e oito hectares e oitenta e sete centésimos de hectares) de Floresta Nacional integrados ao IBAMA. Na FLONA Carajás se encontram as jazidas de minério, o Zoobotânico e parte dos projetos da Vale.
Comparado a um jovem de vinte anos, Parauapebas ainda tem muitos desafios pela frente. E se depender da boa vontade do seu povo vai entrar na história, como a cidade com o maior desenvolvimento do Brasil.
A Câmara dos Vereadores, a arte e o amor dos desbravadores da família Kluch.
De todos os pioneiros que entrevistamos a história que mais nos impressionou foi a do casal kluch. Por ser romântica, engraçada, carregada com certo drama e repleta de aventuras. Além disso, a história do casal é surpreendente por desmistificar a idéia que temos sobre a descoberta da jazida mineral de Carajás.
O gaúcho de Bagé Hilmar Harry Kluch é um senhor muito simpático. Descendente de alemães e ucranianos tem os cabelos brancos e voz suave. Mas, quem observa dentro dos seus olhos percebe a força de um homem que até hoje, mantém o gosto pela aventura. Um verdadeiro desbravador, indigenista, jornalista e pesquisador. Casado com Neusa Kluch, sempre teve um papel ativo na região.
A Neusa é, até no seu jeito de falar, uma pessoa carinhosa e é com esse mesmo carinho que ela trabalha seu artesanato feito em bucha, castanha, fibras e folhas. Mas surpreende também, pela a coragem que a levou sozinha em 1975, aos 15 anos, de Floriano no Piauí a Marabá, onde conheceu Hilmar quando os dois trabalhavam na CODIM. Esse entusiasmo ajudou-a a criar seus filhos como pescadora profissional do Rio Tocantins, foi a primeira pescadora associada de Marabá, enquanto o marido passava meses nas expedições. “Uma vida de sossegos e desassossegos”, conta ela.
O primeiro contato de Hilmar com a região, aconteceu no início dos anos 60. “Subi o Rio Parauapebas, naquele tempo Rio Branco, para pesquisar os desníveis de água e cachoeiras para a instalação de uma micro-hidrelétrica para Marabá”. Nesse período, Hilmar conta que já havia feito um relatório para a CODIM sobre o minério. “Encontrei ferro, encontrei manganês e fiz um relatório de amostras e mandei pra Belém, de maneira que a existência de ferro aqui na região não era tão misteriosa”, afima Hilmar. Segundo ele, a capa ferrífera foi constatada pelo geólogo Mario Marques. “A Unidet State Steel Corporation já sabia da existência do ferro, mas, evocou a si a descoberta”, conta Hilmar.
Passados alguns anos, os políticos locais o convidaram para montar a estrutura da primeira Câmara de Vereadores do município recém emancipado. “Eu já tinha trabalhado na Câmara Municipal de Porto Alegre como chefe dos taquígrafos. E tinha contato com a Câmara de Marabá, portanto, minha familiaridade com as Câmaras já era conhecida e por isso me convidaram.”
Hilmar não lembra bem as datas, mas, a sua chegada em Parauapebas deve ter sido pouco antes de 1988. Ele nos falou que as ruas do Rio Verde eram apenas “pinicadas”. “Ofereceram-me um salário muito bom pra época, então trouxe minha família. Nós ganhamos dois lotes na área mais linda da Cidade Nova, mas me acanhei em recebê-los da Câmara de Marabá, pois Parauapebas ia ter sua própria política. Fui muito criticado, por isso”, recorda.
Segundo Hilmar, quando Parauapebas foi emancipada tudo era uma grande festa “Os vereadores foram eleitos e nem sequer sabiam o que significava ser vereador, para quê e como, funcionava a Câmara. O presidente escolhido entre eles, foi o ‘Zé do Galo’”.
Estava iniciando a vida política na cidade e a primeira sede da Câmara dos Vereadores de Parauapebas foi montada no Rio Verde. “A primeira Câmara era um galpão de madeira, caindo aos pedaços. Minha secretária, uma máquina de escrever velha e papeis. Só isso”, lembra.
Hilmar sabia que Parauapebas ia se desenvolver muito, ele conta que o GETAT já havia inclusive, criado Canaã dos Carajás, antes chamado de CEDERE I, II e III. Segundo ele, os índios se sentiram acuados pelas doenças, pelos garimpeiros e por tanta gente que chegava ao município, então resolveram se mudar. “Já havia tido um tiroteio na aldeia porque os cristãos eram perversos, matavam mesmo. Os índios não quiseram ficar no Rio Branco, eles resolveram ir para uma mata que conheciam muito. Onde o rio era bom e muito farto em peixe. Aí eu fui com eles. Foi lá no Catetté”.
Neusa Kluch, a esposa, chegou aqui dois meses depois de Hilmar e lembra das únicas construções de tijolos no Rio Verde. “O hospital do Faisal e a casa do Fernando da Ótica, o resto eram casas cobertas por uma lona preta horrível e feitas em madeira. A primeira Câmara era um cubiculuzinho com gradeados de madeira ao lado da sorveteira do Alan.” A sorveteria era outra referência do Rio Verde. “Não tinha nada em Parauapebas, mas o povo não deixava de freqüenta a sorveteria”, recorda Neusa.
Enquanto o marido se dedicava à Câmara, Neusa trabalhava seu artesanato. Um período em que fez inúmeras amizades entre elas, a inseparável amiga Sandra. Ela lembra de situações engraçadas que envolvem a disputa entre as moradoras da Cidade Nova a as moradoras do Rio Verde. “Sempre realizávamos jogos e geralmente, quando nós mulheres do Rio Verde chegávamos éramos apontadas como as ‘Pés rachado ’e outros nomes por morarmos na área dos prostíbulos. Pra não ficar por baixo apelidávamos as mulheres da Cidade Nova de ‘Pés de Seda’”, conta Neusa. Essa história garantia a diversão das duas equipes e demonstrava o preconceito que existia na época, entre os dois bairros.
Neusa foi responsável também, pelo primeiro grupo de artesanato de Parauapebas no qual participaram muitas companheiras de luta. Hoje, ela é uma das coordenadoras da Cooper e participa do Curso de Educação Patrimonial realizado pelo Museu Emílio Goeldi em parceria com a Vale. Neusa sonha em ser ceramista e sonha também, com a Casa de Cultura de Parauapebas. Segundo ela, seria um espaço permanente de exposição para os artistas e artesãos da cidade, pois: “Se visitarmos os cantinhos de Parauapebas nós veremos quanta beleza está nas mãos dos artistas que temos aqui dentro. Precisamos de um local para receber o turista e mostrar a ele que temos belos trabalhos em madeira, sementes, fibras, papel e futuramente em cerâmica”, explica Neusa.
O casal Kluch fala em ir embora um dia. Neusa conta que se sente muito amada pelos amigos que fez aqui e ao mesmo tempo, se sente um pouco triste porque as pessoas esqueceram da dedicação que Hilmar teve por Parauapebas. “Ele se doou tanto que até se esqueceu de mim. Se formos pra Marabá, pretendo comprar um barco para descermos o rio, pois amamos a ‘Mãe Natureza’”, diz emocionada. “Quero ir porque aqui não tem praia e o rio está muito sujo, sinto falta disso, só por isso”, explica Hilmar.
Em respeito a essa dedicação, a cidade deseja muita saúde, paz e principalmente, que seus sonhos se realizem. Agradece especialmente, pois cada ano completado é o resultado da luta de todos que contribuíram para o nosso desenvolvimento. E talvez para redimir essa falta de lembrança, em nome da cidade, asseguramos que a palavra certa não é esquecimento e sim, distração. Em vinte anos crescemos muito, porque um dia pioneiros como vocês chegaram nessa área e deram início a essa história de amor que aumenta a cada dia. Parabéns!
As invasões e a multiplicação dos bairros – Quando uma cidade nasce no meio do nada, como aconteceu nessa região do Sudeste do Pará, mas com tantas promessas de futuro, como o que ainda se espera e se constata aqui em Parauapebas, é natural que as pessoas venham em busca de melhores condições de vida.
E aqui, elas chegam todos os dias e de todos os cantos. Vêm no trem da Vale que sai de São Luís e atravessa o Maranhão, nos ônibus ou, automóveis pela PA – 275 e de avião, no aeroporto da Serra dos Carajás. Gente que ainda sonha como os pioneiros e deseja um pedacinho de chão, um emprego, escola para os filhos, saúde e alimentação. Essa chegada constante coloca o município em primeiro lugar na taxa de crescimento nacional. Uma média de 18% ao ano, percebida todos os dias quando os morros e áreas são ocupados e mais barracos são construídos. Um movimento intenso de pessoas e carros, dentro de uma cidade que não dome.
Parauapebas é assim. Nasceu em dois pontos: Rio Verde e Cidade Nova; e com um propósito, a extração das riquezas minerais. O próprio Rio Verde nasceu de uma invasão a uma fazenda que tinha o mesmo nome e, administrada por Valdir Frauzino, pertencia a uma família de Rio Verde do Goiás. “A maioria das pessoas chegam e não tem onde ficar. Estão em busca de emprego e sem o endereço do parente. O pior é que grande parte delas não têm a capacitação profissional exigida pelas empresas”, afirma a geógrafa Tânia Brunelle.
Se por um lado a cidade cresce, por outro, a demanda populacional se torna um desafio para as administrações públicas. À medida que as pessoas chegam e surgem novos bairros, aumenta a necessidade de novas de escolas, postos de saúde, creches, além do custo com o saneamento básico e segurança. No entanto, essa incrível necessidade do ser humano, em ir e vir oferece a essa cidade o título de município de maior população flutuante do país. Se em 1986 o número de habitantes já espantava por estar em 25 mil, em 2008 o indicador já ultrapassa 130 mil pessoas. Marca registrada ano passado, pelo IBGE.
E exceto pelo Bairro da Paz, Bairro Maranhão e Primavera, Parauapebas apresenta um histórico de ocupações tranqüilas. Lentamente, bairros como o União, o Maranhãozinho, Vila Rica, Betânia, Altamira e outros, surgiram da noite pro dia. Muitos deles, incentivados, ou doados pela Prefeitura em seus diversos mandatos, sem planejamento, mas com grandes expectativas.
O Primavera – Tão antigo quanto Rio Verde e Cidade Nova, o Bairro Primavera é considerado uma das primeiras ocupações de Parauapebas. Antes da invasão o local pertencia a uma fazenda. A data da ocupação é incerta, algumas pessoas defendem que no início da década de 80, por volta de 1982, já havia gente na área e outras pessoas citam o surgimento do Primavera, em 1989.
A maranhense de Pindaré-Mirin, Luzia Onofre Galvão, conta que chegou em Parauapebas em 1985 e foi morar na rua Belém, próximo de onde começaria a invasão. Ela lembra que o seu barraco era pequeno demais. “Moravam comigo e com meu marido, o meu filho, a família dele e também, a família do meu marido. Muita gente debaixo de um teto só”, explica.
Quando a invasão começou, eles se mudaram pra área. “As ruas eram alagadas, tinha muita lama e colonhão, capim pra que não sabe. Quem adoecia era carregado no colo até o Sesp e a energia era a base de lamparina”, lembra Luzia.
O senhor Arlindo José Damasceno conta que ocupação não foi tranqüila. “Os donos da fazenda tentaram nos tirar daqui, houve tiroteio e muita confusão, até que desistiram”. Pernambucano de Petrolina, José chegou a Parauapebas em 1982. Carpinteiro, criou sua família trabalhando nas construções que surgiam na cidade. Ele também lembra das dificuldades do bairro Primavera, principalmente na época das cheias.
Por muito tempo a situação do bairro foi triste. Mas, a fé do povo que se mudou pra área foi tanta que reuniram forças e construíram a primeira igreja católica do Primavera, chamada pelos fundadores de Igreja São Raimundo. “Naquele tempo, por causa do mato, lama e falta de energia, a Paróquia de São Sebastião ficava longe pra nós, foi então que surgiu a idéia de fazer a celebração na porta das casas. Onde o vizinho aceitava agente fazia, cada domingo era um lugar diferente e sempre de lamparina na mão. Nem a lama, nem o capim, foram capazes de impedir o grupo. Depois, ganhamos um lote do Edimílson e construímos a nossa igreja”, recorda Luzia Onofre.
No final de 1999, segundo informações de moradores, surgiram as Chácaras da Lua, do Sol e das Estrelas. As casas foram construídas pela Vale no período em que a empresa estava sendo privatizada. Elas ficam próximas do Bairro União e Primavera e foram construídas como opção de moradia para os funcionários da empresa que deixaram o Núcleo Urbano de Carajás.
Os dois são os moradores mais antigos do bairro Primavera, mas, nenhum soube explicar o porquê do nome. No entanto, qualquer que tenha sido a intenção, ou o motivo da homenagem, o Primavera floresce a cada dia. Há muito, a lamparina foi aposentada. Hoje, a realidade do bairro é outra, as ruas estão asfaltadas e o comércio é forte.
Bairro União – Com o Bairro União foi diferente, ele surgiu calmamente, a partir de uma invasão da área de outra fazenda. Ninguém informa a quem pertencia, mas as pessoas foram chegando e levantando seus barracos, tomando posse e construindo suas vidas.
Ana Cleide Brito dos Santos, hoje com 24 anos, lembra com saudade do bairro. Passou sua infância por lá. Contou-nos sobre os banhos no riacho que hoje, leva o nome de “Sebozinho”. Ela nos disse que antigamente o rio era muito limpo. “Dava gosto”, explica. A Ana foi também, a quarta criança a nascer no Sesp. A mãe andou 15 km antes do parto. “Nasci aqui no dia 19 de abril de 1984. Aos seis anos de idade minha família se mudou pro Bairro União, onde fiz muitas amizades.”
A família era humilde e sem alternativas, em 1992 foi morar no bairro União em um barraco próximo do riacho. Nesse período não havia água encanada e todos usavam o riacho pra lavar roupa e louça. “O União era só uma estradinha. Brincávamos muito no riacho, colhíamos fruta e geralmente, perdíamos a roupa e as panelas. Eu fiz do bairro União uma história, era isso que ele significava. A história da minha infância.”, lembra emocionada.
Mas, o que a família de Ana Cleide não esperava aconteceu. O barraco foi construído em área de risco e quando a prefeitura indenizou os moradores da área , eles foram convidados a sair. “Quando chovia molhava o barraco todo era muito triste. Até que fomos indenizados, o pior foi que na saída do banco minha mãe foi assaltada. Os cinco mil reais que minha mãe tinha recebido, foi levado”, explica.
Depois deste triste episódio, Ana nos contou que foi morar no bairro Vila Rica, o ano em questão foi 2001. Uma época em que não havia transporte, nem energia, nem água e muito menos escolas. “Foi quando invadiram o Vila Rica, desesperada minha mãe veio e conseguiu o lote .Levantamos o barraco com a sobra da madeira que trouxemos do União. Eu já estava trabalhando na prefeitura e pra sair de casa eu ia de carona, ou a pé, chorei muito sentindo falta do meu antigo bairro”, lembra Ana.
Entre as lembranças de Ana Cleide está a feirinha do Bairro União. Uma movimentação que acontecia encostada à ponte que o liga o bairro ao Rio Verde. “Era a única opção de compra para os moradores da área, o fluxo de gente era muito grande”, afirma.
Catorze anos se passaram, desde a mudança de Ana Cleide. A própria feira mudou para um local adequado, a estradinha no capim deu lugar a um bairro de construções nobres, aluguéis caros, hotéis e comércio variado. O antigo bairro União ficou guardado na memória das inúmeras crianças. Lembranças do pequeno rio, da descida de bicicleta na rua do quartel e todas as brincadeiras vividas pelas crianças que cresceram por lá.
Bairro da Paz – Os conflitos por lote mais sangrentos da cidade, aconteceram durante a invasão da fazendo do Serraria. O vigilante Raimundo Gomes Damasceno, maranhense de Igarapé Grande, relata que a ocupação do Bairro da Paz começou em julho de 1990. “Na sexta-feira à noite fui convidado por um amigo pra participar da invasão, na segunda-feira às seis da tarde a área já estava ocupada”, conta Raimundo. Segundo ele, eram mais de duzentas famílias invadindo uma fazenda que ficava na área do Bairro. “Escolhi esse pedaço, eu e minha família fomos os primeiros a vivermos no Bairro da Paz e por sorte a nossa rua foi a primeira a ser aberta”.
Logo os donos da fazenda tentaram desocupá-la. Raimundo conta que o conflito foi sangrento. “Morreu muita gente, mas o prefeito da época nos deu muito apoio. A agonia só acabou há três anos, quando recebemos o título da terra”, recorda. De acordo com ele, antes de se estruturado o Bairro da Paz além de perigoso, tinha muita lama. “O nome foi devido á vontade que agente tinha de ter paz aqui no bairro e hoje tá uma beleza”.
A partir do Bairro da Paz nasceram outros bairros na área, que ao contrário dele, resultaram dos loteamentos. O distrito compreende atualmente, Novo Brasil Caetanópolis, Nova Vida, Bela vista I, Bela Vista II e Guanabara.
O seu Raimundo é casado com dona Francisca da Chagas Bezerra e com ela fundou a comunidade Católica Espírito Santo. É pai de Arinaldo e de outros filhos. Vive até hoje no mesmo lote da época da invasão e diz que não se arrepende nunca de um dia ter se mudado pra cá. “Aqui é meu lugar”, afirma Raimundo.
Os Maranhenses e o bairro - O Bairro Maranhão também traz em sua história a luta do povo pela posse de uma terra. Dona Tereza participou de todo o processo de ocupação. Antes de invadir a área ela morava de aluguel no bairro União e sonhava, como tantos outros, com a casa própria, quando foi convidada pelo ‘Parázinho’, o líder, a ocupar a terra. “ Foi no dia dois de agosto de 1992. O Parázinho me perguntou se eu tinha coragem de ajudar e eu disse que sim.Meu marido não acreditou muito e não veio. Entramos aqui cinco vezes e o Faisal tirou nós, porque a área era dele. Na sexta vez nós ficamos, eram cento e noventa e duas famílias, a polícia chegou meio dia e prendeu o nosso líder, foi então que nos unimos e fomos até a delegacia, dissemos a polícia que se o Parázinho ficasse preso a delegacia teria que caber todo mundo, nessa hora ganhamos a luta, porque a polícia desistiu”, lembra Tereza.
As primeiras ruas a serem abertas foram: A Santarém, a Eldorado e 25 de dezembro. No governo do Chico das Cortinas o bairro ganhou asfalto e um chafarz pra suprir a falta dágua. Na administração de Isabel Mesquita veio a água encanada e no governo Darci Lermem os moradores do bairro Maranhão e Maranhãozinho ganharam a tão sonhada escola. Com oito salas, banheiro para deficiente, quadra poliesportivo, sala de leitura e laboratório de informática, a escola Josias Leão Sobrinho foi inaugurada em setembro de 2007. Mas, demorou 13 anos para que a escola se tornasse uma realidade. Quem nos conta essa história e a moradora do bairro Maranhãozinho, Maria de Fátima de Sousa Pinto.
Vinda de Codó, no Maranhão, Maria Francisca conta que chegou em Parauapebas em 17 de setembro de 1990. “No dia três de julho de 2000 vim pro Maranhãzinho, fui uma das primeiras moradoras”, recorda Maria de Fátima. Segundo a moradora, a área pertencia ao pastor Severino e a uma senhora chamada França. “Foi muito tranqüilo, o dono apenas dizia que não ia liberar pra ninguém. Até hoje a prefeitura tenta comprar a área, mas falta os donos fecharem a negociação”.
A saga da escola começa a partir da fundação do bairro Maranhão. “Era muito perigoso para nossas crianças ter que atravessar a rodovia pra ir pra os colégios. Foi então que conseguimos uma extensão da escola Cecília Meireles para funcionar onde hoje, é a sede da nossa Associação. Era uma escolinha provisória e precária, mas, pela promessa só ia durar um ano, só que demorou 13. Os governos anteriores diziam que não havia área disponível para construir uma escola no B. Maranhão. Mas, a promessa foi cumprida pelo Darci que, em 2007 inaugurou a Escola Josias Leão”, afirma Maria de Fátima.
Altamira e o complexo – Localizado às margens da rodovia de acesso á ferrovia, o Complexo Altamira parece uma cidade de tão grande que é. Fazem parte dele os seguintes bairros: Altamira, Vila Rica, Betânia, Novo Horizonte, Casa Populares I e II .
Expedito Pereira Silva é natural de Pedra Branca, Ceará, chegou a Parauapebas em 1984, trazendo uma tropa de burro de Marabá. Ele é um dos pioneiros do Altamira e nos contou que a ocupação do Altamira foi rápida. “Hoje tem muita casa boa, porque vocês sabem, as cidades só começam com gente pobre, depois os ricos compra e modificam tudo”, filosofa. Em detalhes nos explicou como era a área antes da invasão. “Dos pé inchado pra cá era só mata, pra lá (lado esquerdo da rodovia na direção da ferrovia) era só roça, juquira, plantação de mandioca, arroz e água, aqui perto ainda alaga, por isso tem pedaço que não é muito bom pra morar”, lembra.
O ano ele não lembra, mas o dia sim, 04 de março. A vinda de pessoas para o Altamira foi iniciada ao final do governo do Chico das Cortinas. “O Chico instalou os Sem-Terra que estavam acampados na frente da prefeitura. Quando os agricultores se mudaram pra área da Palmares o povo iniciou a invasão”, afirma Expedito.
Segundo Expedito, em 1996, na administração da ex-prefeita Isabel Mesquita foram doados lotes para 23 famílias. “Os barracos que apareciam depois eram demolidos porque a área era da prefeitura”, explica.
A primeira rua do bairro chama-se Santo Antonio, Expedito nos falou que as ruas foram batizadas por um antigo morador que tinha mania de por nome em tudo. “Foi o finado Fafá. A minha rua ele batizou de Maria Quitéria, mas quando a prefeitura veio fazer o cadastro ano passado para recebermos o título eu disse: Rapaz é o seguinte, muda o nome dessa rua porque é muito feio, se fosse só Maria eu me conformava, mas essa tal de Quitéria, hum..hum...”, lembra-se sorrindo. A partir daí a rua passou a ser chamada de Cristóvão Colombo.
Casas Populares - Em 2004, foram entregues 360 casas populares entregues para os moradores através de sorteio. O mesmo aconteceu em fevereiro de 2006, quando na administração atual, foram entregues pela Prefeitura, por meio do Programa Habitar Feliz, 514 novas moradias cada uma com 44 metros quadrados.
O Bairro Betânia foi fundado em 04 de maio de 2000 e nasceu da esperança de um povo que fez promessa de colocar um nome bíblico no bairro caso, conseguissem os lotes. Teve o apoio da Associação dos Sem – Teto de Parauapebas (ASTP), fundada em 25 de dezembro de 1998 e contava ainda, com a ajuda da prefeitura e de outras entidades.
Estrutura e Assistência - Apesar da Associação do bairro ter organizado todo o loteamento, o Betânia sofria com as constantes invasões. De acordo com a geógrafa Tânia Brunelle, um lote chegava a ter três donos. “Para tentar resolver o problema a ASTP fez o cadastro para identificar e documentar o dono do lote, essa ação evitava conflitos”, explica. O mesmo aconteceu nos bairros Vila Rica e Novo Horizonte, surgidos na mesma época do Altamira.
A falta de água era outro problema enfrentado não só pelos moradores do Complexo como de toda a cidade. Parauapebas cresceu aceleradamente, sem que os administradores anteriores se preocupassem em ampliar o sistema de abastecimento. Em 2006, a Prefeitura Municipal construiu no bairro Betânia, um grande reservatório de armazenamento de água. “Quatro milhões de litros para atender os consumidores do Altamira, Novo Horizonte, Betânia, Vila Rica, entre outras áreas. Ampliou de três para quatro os motores de captação de água do sistema Autônomo de Águas e Esgotos de Parauapebas (Saaep), a distribuição em alguns bairros da zona urbana e instalou água nos vilas Sansão e Paulo Fonteles, Palmares II, Valentim Serra, Rio Branco e Cedere I”(Revista RP, 2006), o objetivo foi atender toda a cidade.
As reivindicações pela melhoria do abastecimento de água, coleta do lixo, construção de escolas, instalação da rede elétrica e outras, foram ouvidas durante a Assembléia do Orçamento Participativo realizada nos bairros e segundo Tânia Brunelle, 80 % delas foram atendidas.
Mas, nem só de estrutura vivem os bairros, a preocupação com o futuro dos jovens parauapebenses é necessária. No Complexo Altamira programas de assistência social beneficiam cerca de 300 crianças e adolescentes que vivem na área. O Parque Integrado de Inclusão Social da Prefeitura Municipal de Parauapebas (PIPA) proporciona diariamente, educação, lazer, esporte e alimentação para os jovens. O PIPA é formado por três programas; Espaço Criança Adolescente (ECA); Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) e a Casa de Passagem. Os jovens são acompanhados por 25 profissionais.
Durante os 20 anos seguidos a partir da emancipação do município, Parauapebas cresceu e ainda cresce. Maranhenses, paulistas, mineiros, goianos, tocantinos, cearenses, paraibanos, cariocas, gaúchos, piauienses e parauapebenses, pessoas de todos os cantos contribuem com a sua força de trabalho, com a sua esperança e luta para esse desenvolvimento acontecer. A cidade é um caldeirão de sonhos e atrai a cada dia mais sonhadores. Gente disposta a lutar por uma vida digna na cidade que hoje, chamamos de nossa, colhendo os frutos plantados pelos pioneiros e regando as árvores para as futuras gerações.
Mas, por mais oficial que seja, todo lugar tem uma história que é contada nas portas das casas, nas esquinas, nas praças e nos momentos de lazer. Realidades que encantam pela riqueza dos detalhes, pelos olhos mareados, pelas lembranças, pelas mágoas, pela alegria de ter participado de uma ocasião importante na construção de uma cidade que poderia ter sido em qualquer outro canto do mundo, em um ambiente menos inóspito, por exemplo, mas que era naquele momento para muitos, uma opção de vida e para tantos outros uma questão de sobrevivência.
As histórias dos distritos Rio Verde (DARV), Cidade Nova (DACIN), Bairro da Paz (DAPAZ) e Altamira (DACAL) a seguir, são contadas por verdadeiros pioneiros. Gente que trouxe em sua bagagem sonhos, esperanças e vontade de vencer. Cada um descreve à sua forma como foi a sua chegada e a inesquecível experiência de recomeçar a vida, em meio a Floresta Amazônica. Bastidores de mais de duas décadas em que se contabilizam perdas, ganhos e principalmente, hoje, a certeza de que aqui, é o seu lugar.
Pioneirismo – Certeza que demorou acontecer para alguns, como funcionário público Evilásio Pereira. “Eu não acreditava que Parauapebas cresceria tanto, quando eu percebi que a cidade estava desenvolvendo, eu já tinha mais de dez anos morando na área.”
O senhor Evilásio nasceu em Barra do Corda, município maranhense. Chegou a Parauapebas em 1980, após ter sido recrutado em Marabá para trabalhar no Projeto “Ferro Carajás” pela empresa Odebrecht. Ele lembra exatamente o horário que chegou à área. “Às dezesseis horas. Eu e mais 43 companheiros contratados para trabalhar na construção da Vila. Nunca imaginei que aquele era o primeiro dia de tantos anos vivendo nessa cidade. Eu vim pra trabalhar e só pensava nisso.”
Outros ônibus chegaram em seguida e mais pessoas desembarcaram no canteiro de obras da Cidade Nova. Todos contratados pelas empresas que participavam da construção das futuras instalações dos funcionários da estatal mineradora. Um núcleo urbano planejado com sistema de abastecimento de água, hospital (“SESP”), colégio (“Euclides Figueredo”) e delegacia. Segundo o senhor Evilásio, eram cerca de 1200 lotes entre as ruas “A” e “N”, que tiveram a terraplanagem concluída ao final de 1981.
Os imigrantes, o Rio Verde e a saga de um povo
Paralelo à construção da Cidade Nova, do outro lado do Igarapé Ilha do Coco, centenas de pessoas vindas de todas as partes do país montavam suas casas e comércios feitos de palha, lona e madeira. Formava-se a partir daí, um povoado também ligado ao município de Marabá, batizado de Rio Verde. Ao contrário da Cidade Nova, o Rio Verde não tinha nenhum planejamento. O povoado era conhecido pela violência e prostituição. Uma fama ruim, mas comum às cidades que nasceram em volta dos garimpos.
Em 1986, o repórter da Revista Afinal, Valdir Sanches descreveu o nascimento do Rio Verde da seguinte forma: “Um homem chegou às margens do Rio Verde, no Pará, construiu um casebre de madeira e pôs nele três mulheres. Estava fundando uma cidade e não sabia” (Agosto,1986, Afinal). Na mesma reportagem ele citou que o Rio Verde, “um povoado irreverente”, seis anos após a data em que a história conta ter-se iniciado a construção da Vila Parauapebas, teria cerca de 25 mil habitantes e espantosamente, 220 prostíbulos. Ele menciona inclusive, o nome das casas mais famosas: “Sorriso da Noite, Jardim do Amor, Carajás e La Licórnia”. Havia também o Clube dos Solteiros, segundo Valdir Sanches, “um lugar chique, com strip-tease e churrasco gratuito aos domingos”.
Um tempo em que Parauapebas era chamada de Paraopebas, ou Piropebas, porque as pessoas tinham dificuldade em pronunciar o nome correto da vila. Aliás, esse era o nome de um armazém de secos e molhados que ficava no Rio Verde e que também, servia de dormitório. O armazém pertencia à Giussep Ruccica, um siciliano que trouxe a família de São Paulo em 1982.
Segundo Rogério Alexandre, filho de Giussep e Maria Cleide, a viúva, o Armazém e Dormitório Piropebas pegou fogo em 1983. Os dois contam que o incêndio foi causado por uma vela. Na ocasião, a família perdeu tudo. “Até o dinheiro que agente tinha estava guardado no colchão, pois naquela época não tinha banco. Mas graças à ajuda de todos, conseguimos reconstruir nossa vida. Cada um foi sendo solidário a sua forma. A Casa Goiás, os madeireiros e as pessoas que nos conheciam. Um pouco de telha, um fogão, um colchão... E apesar das dificuldades, continuamos a viver em Parauapebas. De lá pra cá, não penso, nenhum momento, em sair daqui”, se emociona Maria Cleide. Ao contrário do primeiro dia em que sentiu vontade de correr, conta ela. Mas, ela não foi a única a sentir essa vontade.
A empresária Maria José Carvalho da Silva natural do Tocantins, nos disse que a sua chegada em Parauapebas foi um momento desesperador. “Olhei pros lados e vi aquele poeirão, aquela bagunça, chorei bastante”, relembra. Ela chegou em 1986 na companhia do marido e dos quatro filhos. “Meu marido perdeu tudo na Serra Pelada e estávamos em uma situação muito difícil em Marabá, quando soubemos de Parauapebas por uma senhora que nos aconselhou a vir pra cá. Cheguei aqui trazendo uma cadeira de cabeleireiro, a minha profissão. Não tínhamos nem o dinheiro pra pagar o aluguel da casa que ficava na rua B. Mas, quando coloquei a placa de ‘corta-se cabelo’ as pessoas começaram a aparecer, cada uma com uma história mais triste que a minha. Foi então que me conformei e naturalmente, o sufoco passou”, recorda Maria José.
Não demorou pra que o Salão Ele e Ela ficasse conhecido e Maria José conquistasse a simpatia de todos. A família ganhou dos administradores da Cidade Nova um lote na Rua I, tirando o peso do aluguel. Na mesma época Maria José participou de uma licitação para montar um salão de beleza em Carajás, onde passou oito anos. “Foi uma surpresa quando ganhei, pois concorri com salões maiores”, lembra Maria José.
Hoje, depois de muitos cortes e penteados, a empresária mudou de ramo. Mas, a exemplo de muitos que chegaram no início da construção da cidade, batalhou para conquistar se patrimônio. Ela nos conta que a cidade lhe deu momentos de alegria e de tristeza. Em 1998 perdeu o filho e na mesma época, o marido saiu de casa deixando-a só com os outros. “Minha vida ficou toda desestruturada e a duras penas consegui refazer minha história, principalmente porque as pessoas foram solidárias. Às vezes penso em sair daqui, mas desisto, porque firmei laços fortes com Parauapebas”.
O certo é que, atraídos pela grande oferta de trabalho e o sonho de enriquecimento, o número imigrantes aumentava a cada dia. As pessoas chegavam e ocupavam as áreas das fazendas. O próprio Evilásio resolveu morar no Rio Verde, quando começaram as primeiras invasões. Alugou uma “D10” e trouxe do Maranhão a sua família. Logo o Grupo Executivo de Terras do Araguaia-Tocantins (GETAT), na época coordenado por Carlos Henrique, loteou a área sob as vistas da Polícia Federal que cuidava da segurança.E não demorou muito para que as ocupações se aproximassem da Cidade Nova. “Essa chegada maciça fez com que a Vale, desistisse de construir o Núcleo Urbano na Cidade Nova e o construísse em Carajás. Foi então que, a empresa nomeou um funcionário chamado Francisco Brito responsável pela distribuição dos lotes para as pessoas que tivessem condições de construir, no prazo de 90 dias, suas casas de tijolos”, afirma Evilásio.
Seu Evilásio também conta que, o primeiro morador da Cidade Nova se chamava Antônio “Bucho”, o único do Rio Verde, na época, que tinha condições de cumprir as exigências de moradia. “Ele era dono de um “inferninho”, por isso não foi muito difícil construir a casa de alvenaria”, lembra-se sorrindo. De acordo com ele, as primeiras casas da cidade Nova, cerca de 60, foram construídas entre as rua C e D. “Nessa época lembro que no mês de fevereiro chegou a chover dezesseis dias consecutivos, o verão durava três meses, o resto era inverno e o Rio Parauapebas era lindo”.
Evilásio lembra também, que um dos primeiros comércios da Rua 14, foi a Elétrica Padrão que está lá até hoje, conservando a sua estrutura original. O comércio pertence a Hilton Alves Sousa, eletricista que chegou, segundo ele, em 1974 para trabalhar na empresa Meridional. “Fiz uma boa escolha, consegui mudar de vida, pois aqui não falta trabalho”, conta Hilton Alves.
A advogada Irenildes Soares Barata, primeira diretora do colégio Euclides Figueredo, lembra que o loteamento da Cidade Nova aconteceu da seguinte forma: A Rua A era destinada ao comércio; Os lotes da Rua B para as pessoas que faziam parte do quadro administrativo da Vila (médicos, enfermeiros e professores); Na rua C moravam militares e fazendeiros .
Ela também conta, que com a ajuda da equipe formada pelas professoras Januária, Estela, Betinha, Iolanda e Maria José havia, a preocupação com a formação dos alunos. “Nós saíamos da escola e matriculávamos os alunos que não tinham documentos. Não deixávamos ninguém de fora, nem mesmo os filhos das prostitutas que não eram matriculados pelas mães, porque elas tinham vergonha de sair do Rio Verde. Talvez o fato de hoje, Parauapebas ser um município premiado pelos órgãos da educação seja também, um reflexo dessa preocupação do passado”, afirma Irenildes.
Enquanto na Cidade Nova eram distribuídos os lotes, no Rio Verde o comércio crescia. Lá, concentrava-se a maior parte do comércio da região, eram armazéns, lojas de roupas, calçados, armarinhos, móveis, frutarias, etc. “Quem morava na Cidade Nova, tinha que comprar no Rio Verde, foi então, os comerciantes do povoado ganharam dinheiro e puderam comprar seus lotes na área considerada “nobre” e assim, a Cidade Nova foi tomando forma de bairro e se desenvolvendo”, explica Evilásio.
Infância - Uma das experiências mais marcante na vida dos pioneiros entrevistados foi a de Rogério Alexandre. Ele passou a sua infância na cidade. Pra ele, as maiores diversões daquela década eram em primeiro lugar, o rio que tinha a água limpa e era farto em peixe, onde “toda a molecada tomava banho, enquanto as mães lavavam as roupas”; em segundo, as castanheiras do Rio Verde e em terceiro, o cinema “Cine Uirapuru”, que ficava em cima de uma palafita sobre o Igarapé Ilha do Coco, em frente a ponte que liga, hoje, o Bairro União ao Rio Verde. “Era um ambiente rústico. À noite eles colocavam o som na rua, pra fazer a propaganda dos filmes, agente assistia aos filmes de karatê. Era dentro do Igarapé, lembro como se fosse hoje”, afirma Rogério. O cinema também foi instalado no Rio Verde e ficou conhecido por muitos, pelo nome de Cine Capri.
O primeiro Banco da cidade foi o Bamerindus, hoje Basa, no mesmo lugar funcionou a rodoviária, uma igreja católica e um colégio. O primeiro supermercado da Cidade Nova foi o “Terra Seca”, no mesmo lugar está o Supermercado Alvorada. A própria prefeitura teve algumas moradas A primeira na Rua E, antiga Fasc, hoje SEMAS. Depois passou pra Rua D e por fim, na atual administração, a prefeitura mudou-se para Rua E nº 75, próximo da portaria da Vale. Todas as sedes eram na Cidade Nova e talvez por isso, existia, na época, certa briga entre os moradores dos dois bairros. “A Cidade Nova era a preferida dos prefeitos, todas as obras importantes eram feitas lá”, conta Evilásio. Exagero ou não, ainda dá pra sentir na voz dos pioneiros dos dois bairros, o clima de disputa e mágoa.
A revolta dos garimpeiros
Em 1984, uma revolta comandada por garimpeiros, deixou a cidade em “Estado de Sítio” durante uma semana. Nesse ano a área tinha apenas um delegado e mais cinco soldados.
A revolta aconteceu por causa do ouro da Serra Pelada. Os garimpeiros queriam manter o direito de exploração, negado a partir do momento em que a CVRD requereu, junto ao governo federal, por meios legais, o direito de exploração do subsolo. Na ocasião, eles tentaram invadir a Serra dos Carajás. Segundo o testemunho dos pioneiros Irenildes, Rogério, Evilásio e Maria Cleide, foi uma semana de muita tensão. Os garimpeiros queimaram a delegacia, a COSAMPA (Companhia de Saneamento do Pará), a sub-prefeitura e tudo que viam pela frente. “Nunca vi tanta gente. À noite agente ouvia os tiros. Ficou difícil até pra conseguir o diesel pra abastecer os geradores, nessa época não tinha energia elétrica”, conta Rogério.
Irenildes Soares nos contou que eles não queimaram o colégio e o hospital porque houve muita conversa. “Eram oito lideres. Eu pedi muito pra que eles não queimassem o colégio. A cidade estava começando e foi muito triste ver a delegacia queimar, principalmente, porque nós participamos da sua construção. Mesmo assim, eles ameaçavam dizendo que, se o José Sarney Presidente da República, ficasse a favor da Vale eles queimariam tudo. Uma semana depois, com a ajuda do reforço policial o conflito chegou ao fim”.
A independência – O desenvolvimento de Parauapebas acontece principalmente, após a separação política de Marabá. Em 1984, surgiram os primeiros movimentos pela municipalização do povoado. Liderado por pioneiros, como administrador Francisco Brito, Evaldo da Opção, Walmir da Transrodovia, Mudubin, Dr. Wolner, Zé Nunes, Valdir Flausino, Márcio Dalfert, Manoel do Baratão e mais 20 pessoas, aproximadamente, o movimento de independência alegava que, apesar de todos os impostos gerados pela extração do minério e comércio local serem recolhidos por Marabá, o lugar estava abandonado. Somente após 04 anos de luta política Parauapebas foi emancipado, através da lei nº 9.443/1988 de 10 de maio de 1988.
Irenildes Soares Barata, também foi testemunha do plebiscito, ela lembra que esse dia foi maravilhoso. “A eleição foi no Euclides Figueredo. Todo mundo vinha votar naquela alegria, naquela empolgação e as pessoas votavam pelo Sim. O curioso é que algumas delas votavam várias vezes, não havia muita rigidez na fiscalização e quando foi no dia 10 de maio de 1988 o município foi emancipado”. Segundo ela, a entrega oficial do município aconteceu no pátio da escola, os representantes políticos de Marabá e de Parauapebas acertaram que, a partir daquele dia que todo funcionário da prefeitura de Marabá que prestava serviço em Parauapebas seria automaticamente incorporado ao quadro da prefeitura do novo município.
Em 1988, aconteceu também, a primeira eleição direta do município. Nela concorreram Faisal Salmen e o Dr. Wolner. O médico Faisal Salmen foi o vencedor da disputa dando início a administração municipal sucedida por Chico das Cortinas, Isabel Mesquita e atualmente, Darci Lermen.
Parauapebas é hoje, um município com mais de 130 mil habitantes. Comemorando apenas 20 anos de idade, a jovem cidade já tem seu próprio Plano Diretor. Está muito além do passado. Tem cinco agências bancárias, que são insuficientes pra atender a demanda de um lugar que comporta um número fantástico de empresas, sendo uma delas, a segunda maior mineradora do mundo. O comércio local continua a se expandir. A rede hoteleira não perde para as grandes cidades. O mais maravilhoso disso tudo é a extensa área verde que está em volta dela. São 411.948,87 (Quatrocentos e onze mil novecentos e quarenta e oito hectares e oitenta e sete centésimos de hectares) de Floresta Nacional integrados ao IBAMA. Na FLONA Carajás se encontram as jazidas de minério, o Zoobotânico e parte dos projetos da Vale.
Comparado a um jovem de vinte anos, Parauapebas ainda tem muitos desafios pela frente. E se depender da boa vontade do seu povo vai entrar na história, como a cidade com o maior desenvolvimento do Brasil.
A Câmara dos Vereadores, a arte e o amor dos desbravadores da família Kluch.
De todos os pioneiros que entrevistamos a história que mais nos impressionou foi a do casal kluch. Por ser romântica, engraçada, carregada com certo drama e repleta de aventuras. Além disso, a história do casal é surpreendente por desmistificar a idéia que temos sobre a descoberta da jazida mineral de Carajás.
O gaúcho de Bagé Hilmar Harry Kluch é um senhor muito simpático. Descendente de alemães e ucranianos tem os cabelos brancos e voz suave. Mas, quem observa dentro dos seus olhos percebe a força de um homem que até hoje, mantém o gosto pela aventura. Um verdadeiro desbravador, indigenista, jornalista e pesquisador. Casado com Neusa Kluch, sempre teve um papel ativo na região.
A Neusa é, até no seu jeito de falar, uma pessoa carinhosa e é com esse mesmo carinho que ela trabalha seu artesanato feito em bucha, castanha, fibras e folhas. Mas surpreende também, pela a coragem que a levou sozinha em 1975, aos 15 anos, de Floriano no Piauí a Marabá, onde conheceu Hilmar quando os dois trabalhavam na CODIM. Esse entusiasmo ajudou-a a criar seus filhos como pescadora profissional do Rio Tocantins, foi a primeira pescadora associada de Marabá, enquanto o marido passava meses nas expedições. “Uma vida de sossegos e desassossegos”, conta ela.
O primeiro contato de Hilmar com a região, aconteceu no início dos anos 60. “Subi o Rio Parauapebas, naquele tempo Rio Branco, para pesquisar os desníveis de água e cachoeiras para a instalação de uma micro-hidrelétrica para Marabá”. Nesse período, Hilmar conta que já havia feito um relatório para a CODIM sobre o minério. “Encontrei ferro, encontrei manganês e fiz um relatório de amostras e mandei pra Belém, de maneira que a existência de ferro aqui na região não era tão misteriosa”, afima Hilmar. Segundo ele, a capa ferrífera foi constatada pelo geólogo Mario Marques. “A Unidet State Steel Corporation já sabia da existência do ferro, mas, evocou a si a descoberta”, conta Hilmar.
Passados alguns anos, os políticos locais o convidaram para montar a estrutura da primeira Câmara de Vereadores do município recém emancipado. “Eu já tinha trabalhado na Câmara Municipal de Porto Alegre como chefe dos taquígrafos. E tinha contato com a Câmara de Marabá, portanto, minha familiaridade com as Câmaras já era conhecida e por isso me convidaram.”
Hilmar não lembra bem as datas, mas, a sua chegada em Parauapebas deve ter sido pouco antes de 1988. Ele nos falou que as ruas do Rio Verde eram apenas “pinicadas”. “Ofereceram-me um salário muito bom pra época, então trouxe minha família. Nós ganhamos dois lotes na área mais linda da Cidade Nova, mas me acanhei em recebê-los da Câmara de Marabá, pois Parauapebas ia ter sua própria política. Fui muito criticado, por isso”, recorda.
Segundo Hilmar, quando Parauapebas foi emancipada tudo era uma grande festa “Os vereadores foram eleitos e nem sequer sabiam o que significava ser vereador, para quê e como, funcionava a Câmara. O presidente escolhido entre eles, foi o ‘Zé do Galo’”.
Estava iniciando a vida política na cidade e a primeira sede da Câmara dos Vereadores de Parauapebas foi montada no Rio Verde. “A primeira Câmara era um galpão de madeira, caindo aos pedaços. Minha secretária, uma máquina de escrever velha e papeis. Só isso”, lembra.
Hilmar sabia que Parauapebas ia se desenvolver muito, ele conta que o GETAT já havia inclusive, criado Canaã dos Carajás, antes chamado de CEDERE I, II e III. Segundo ele, os índios se sentiram acuados pelas doenças, pelos garimpeiros e por tanta gente que chegava ao município, então resolveram se mudar. “Já havia tido um tiroteio na aldeia porque os cristãos eram perversos, matavam mesmo. Os índios não quiseram ficar no Rio Branco, eles resolveram ir para uma mata que conheciam muito. Onde o rio era bom e muito farto em peixe. Aí eu fui com eles. Foi lá no Catetté”.
Neusa Kluch, a esposa, chegou aqui dois meses depois de Hilmar e lembra das únicas construções de tijolos no Rio Verde. “O hospital do Faisal e a casa do Fernando da Ótica, o resto eram casas cobertas por uma lona preta horrível e feitas em madeira. A primeira Câmara era um cubiculuzinho com gradeados de madeira ao lado da sorveteira do Alan.” A sorveteria era outra referência do Rio Verde. “Não tinha nada em Parauapebas, mas o povo não deixava de freqüenta a sorveteria”, recorda Neusa.
Enquanto o marido se dedicava à Câmara, Neusa trabalhava seu artesanato. Um período em que fez inúmeras amizades entre elas, a inseparável amiga Sandra. Ela lembra de situações engraçadas que envolvem a disputa entre as moradoras da Cidade Nova a as moradoras do Rio Verde. “Sempre realizávamos jogos e geralmente, quando nós mulheres do Rio Verde chegávamos éramos apontadas como as ‘Pés rachado ’e outros nomes por morarmos na área dos prostíbulos. Pra não ficar por baixo apelidávamos as mulheres da Cidade Nova de ‘Pés de Seda’”, conta Neusa. Essa história garantia a diversão das duas equipes e demonstrava o preconceito que existia na época, entre os dois bairros.
Neusa foi responsável também, pelo primeiro grupo de artesanato de Parauapebas no qual participaram muitas companheiras de luta. Hoje, ela é uma das coordenadoras da Cooper e participa do Curso de Educação Patrimonial realizado pelo Museu Emílio Goeldi em parceria com a Vale. Neusa sonha em ser ceramista e sonha também, com a Casa de Cultura de Parauapebas. Segundo ela, seria um espaço permanente de exposição para os artistas e artesãos da cidade, pois: “Se visitarmos os cantinhos de Parauapebas nós veremos quanta beleza está nas mãos dos artistas que temos aqui dentro. Precisamos de um local para receber o turista e mostrar a ele que temos belos trabalhos em madeira, sementes, fibras, papel e futuramente em cerâmica”, explica Neusa.
O casal Kluch fala em ir embora um dia. Neusa conta que se sente muito amada pelos amigos que fez aqui e ao mesmo tempo, se sente um pouco triste porque as pessoas esqueceram da dedicação que Hilmar teve por Parauapebas. “Ele se doou tanto que até se esqueceu de mim. Se formos pra Marabá, pretendo comprar um barco para descermos o rio, pois amamos a ‘Mãe Natureza’”, diz emocionada. “Quero ir porque aqui não tem praia e o rio está muito sujo, sinto falta disso, só por isso”, explica Hilmar.
Em respeito a essa dedicação, a cidade deseja muita saúde, paz e principalmente, que seus sonhos se realizem. Agradece especialmente, pois cada ano completado é o resultado da luta de todos que contribuíram para o nosso desenvolvimento. E talvez para redimir essa falta de lembrança, em nome da cidade, asseguramos que a palavra certa não é esquecimento e sim, distração. Em vinte anos crescemos muito, porque um dia pioneiros como vocês chegaram nessa área e deram início a essa história de amor que aumenta a cada dia. Parabéns!
As invasões e a multiplicação dos bairros – Quando uma cidade nasce no meio do nada, como aconteceu nessa região do Sudeste do Pará, mas com tantas promessas de futuro, como o que ainda se espera e se constata aqui em Parauapebas, é natural que as pessoas venham em busca de melhores condições de vida.
E aqui, elas chegam todos os dias e de todos os cantos. Vêm no trem da Vale que sai de São Luís e atravessa o Maranhão, nos ônibus ou, automóveis pela PA – 275 e de avião, no aeroporto da Serra dos Carajás. Gente que ainda sonha como os pioneiros e deseja um pedacinho de chão, um emprego, escola para os filhos, saúde e alimentação. Essa chegada constante coloca o município em primeiro lugar na taxa de crescimento nacional. Uma média de 18% ao ano, percebida todos os dias quando os morros e áreas são ocupados e mais barracos são construídos. Um movimento intenso de pessoas e carros, dentro de uma cidade que não dome.
Parauapebas é assim. Nasceu em dois pontos: Rio Verde e Cidade Nova; e com um propósito, a extração das riquezas minerais. O próprio Rio Verde nasceu de uma invasão a uma fazenda que tinha o mesmo nome e, administrada por Valdir Frauzino, pertencia a uma família de Rio Verde do Goiás. “A maioria das pessoas chegam e não tem onde ficar. Estão em busca de emprego e sem o endereço do parente. O pior é que grande parte delas não têm a capacitação profissional exigida pelas empresas”, afirma a geógrafa Tânia Brunelle.
Se por um lado a cidade cresce, por outro, a demanda populacional se torna um desafio para as administrações públicas. À medida que as pessoas chegam e surgem novos bairros, aumenta a necessidade de novas de escolas, postos de saúde, creches, além do custo com o saneamento básico e segurança. No entanto, essa incrível necessidade do ser humano, em ir e vir oferece a essa cidade o título de município de maior população flutuante do país. Se em 1986 o número de habitantes já espantava por estar em 25 mil, em 2008 o indicador já ultrapassa 130 mil pessoas. Marca registrada ano passado, pelo IBGE.
E exceto pelo Bairro da Paz, Bairro Maranhão e Primavera, Parauapebas apresenta um histórico de ocupações tranqüilas. Lentamente, bairros como o União, o Maranhãozinho, Vila Rica, Betânia, Altamira e outros, surgiram da noite pro dia. Muitos deles, incentivados, ou doados pela Prefeitura em seus diversos mandatos, sem planejamento, mas com grandes expectativas.
O Primavera – Tão antigo quanto Rio Verde e Cidade Nova, o Bairro Primavera é considerado uma das primeiras ocupações de Parauapebas. Antes da invasão o local pertencia a uma fazenda. A data da ocupação é incerta, algumas pessoas defendem que no início da década de 80, por volta de 1982, já havia gente na área e outras pessoas citam o surgimento do Primavera, em 1989.
A maranhense de Pindaré-Mirin, Luzia Onofre Galvão, conta que chegou em Parauapebas em 1985 e foi morar na rua Belém, próximo de onde começaria a invasão. Ela lembra que o seu barraco era pequeno demais. “Moravam comigo e com meu marido, o meu filho, a família dele e também, a família do meu marido. Muita gente debaixo de um teto só”, explica.
Quando a invasão começou, eles se mudaram pra área. “As ruas eram alagadas, tinha muita lama e colonhão, capim pra que não sabe. Quem adoecia era carregado no colo até o Sesp e a energia era a base de lamparina”, lembra Luzia.
O senhor Arlindo José Damasceno conta que ocupação não foi tranqüila. “Os donos da fazenda tentaram nos tirar daqui, houve tiroteio e muita confusão, até que desistiram”. Pernambucano de Petrolina, José chegou a Parauapebas em 1982. Carpinteiro, criou sua família trabalhando nas construções que surgiam na cidade. Ele também lembra das dificuldades do bairro Primavera, principalmente na época das cheias.
Por muito tempo a situação do bairro foi triste. Mas, a fé do povo que se mudou pra área foi tanta que reuniram forças e construíram a primeira igreja católica do Primavera, chamada pelos fundadores de Igreja São Raimundo. “Naquele tempo, por causa do mato, lama e falta de energia, a Paróquia de São Sebastião ficava longe pra nós, foi então que surgiu a idéia de fazer a celebração na porta das casas. Onde o vizinho aceitava agente fazia, cada domingo era um lugar diferente e sempre de lamparina na mão. Nem a lama, nem o capim, foram capazes de impedir o grupo. Depois, ganhamos um lote do Edimílson e construímos a nossa igreja”, recorda Luzia Onofre.
No final de 1999, segundo informações de moradores, surgiram as Chácaras da Lua, do Sol e das Estrelas. As casas foram construídas pela Vale no período em que a empresa estava sendo privatizada. Elas ficam próximas do Bairro União e Primavera e foram construídas como opção de moradia para os funcionários da empresa que deixaram o Núcleo Urbano de Carajás.
Os dois são os moradores mais antigos do bairro Primavera, mas, nenhum soube explicar o porquê do nome. No entanto, qualquer que tenha sido a intenção, ou o motivo da homenagem, o Primavera floresce a cada dia. Há muito, a lamparina foi aposentada. Hoje, a realidade do bairro é outra, as ruas estão asfaltadas e o comércio é forte.
Bairro União – Com o Bairro União foi diferente, ele surgiu calmamente, a partir de uma invasão da área de outra fazenda. Ninguém informa a quem pertencia, mas as pessoas foram chegando e levantando seus barracos, tomando posse e construindo suas vidas.
Ana Cleide Brito dos Santos, hoje com 24 anos, lembra com saudade do bairro. Passou sua infância por lá. Contou-nos sobre os banhos no riacho que hoje, leva o nome de “Sebozinho”. Ela nos disse que antigamente o rio era muito limpo. “Dava gosto”, explica. A Ana foi também, a quarta criança a nascer no Sesp. A mãe andou 15 km antes do parto. “Nasci aqui no dia 19 de abril de 1984. Aos seis anos de idade minha família se mudou pro Bairro União, onde fiz muitas amizades.”
A família era humilde e sem alternativas, em 1992 foi morar no bairro União em um barraco próximo do riacho. Nesse período não havia água encanada e todos usavam o riacho pra lavar roupa e louça. “O União era só uma estradinha. Brincávamos muito no riacho, colhíamos fruta e geralmente, perdíamos a roupa e as panelas. Eu fiz do bairro União uma história, era isso que ele significava. A história da minha infância.”, lembra emocionada.
Mas, o que a família de Ana Cleide não esperava aconteceu. O barraco foi construído em área de risco e quando a prefeitura indenizou os moradores da área , eles foram convidados a sair. “Quando chovia molhava o barraco todo era muito triste. Até que fomos indenizados, o pior foi que na saída do banco minha mãe foi assaltada. Os cinco mil reais que minha mãe tinha recebido, foi levado”, explica.
Depois deste triste episódio, Ana nos contou que foi morar no bairro Vila Rica, o ano em questão foi 2001. Uma época em que não havia transporte, nem energia, nem água e muito menos escolas. “Foi quando invadiram o Vila Rica, desesperada minha mãe veio e conseguiu o lote .Levantamos o barraco com a sobra da madeira que trouxemos do União. Eu já estava trabalhando na prefeitura e pra sair de casa eu ia de carona, ou a pé, chorei muito sentindo falta do meu antigo bairro”, lembra Ana.
Entre as lembranças de Ana Cleide está a feirinha do Bairro União. Uma movimentação que acontecia encostada à ponte que o liga o bairro ao Rio Verde. “Era a única opção de compra para os moradores da área, o fluxo de gente era muito grande”, afirma.
Catorze anos se passaram, desde a mudança de Ana Cleide. A própria feira mudou para um local adequado, a estradinha no capim deu lugar a um bairro de construções nobres, aluguéis caros, hotéis e comércio variado. O antigo bairro União ficou guardado na memória das inúmeras crianças. Lembranças do pequeno rio, da descida de bicicleta na rua do quartel e todas as brincadeiras vividas pelas crianças que cresceram por lá.
Bairro da Paz – Os conflitos por lote mais sangrentos da cidade, aconteceram durante a invasão da fazendo do Serraria. O vigilante Raimundo Gomes Damasceno, maranhense de Igarapé Grande, relata que a ocupação do Bairro da Paz começou em julho de 1990. “Na sexta-feira à noite fui convidado por um amigo pra participar da invasão, na segunda-feira às seis da tarde a área já estava ocupada”, conta Raimundo. Segundo ele, eram mais de duzentas famílias invadindo uma fazenda que ficava na área do Bairro. “Escolhi esse pedaço, eu e minha família fomos os primeiros a vivermos no Bairro da Paz e por sorte a nossa rua foi a primeira a ser aberta”.
Logo os donos da fazenda tentaram desocupá-la. Raimundo conta que o conflito foi sangrento. “Morreu muita gente, mas o prefeito da época nos deu muito apoio. A agonia só acabou há três anos, quando recebemos o título da terra”, recorda. De acordo com ele, antes de se estruturado o Bairro da Paz além de perigoso, tinha muita lama. “O nome foi devido á vontade que agente tinha de ter paz aqui no bairro e hoje tá uma beleza”.
A partir do Bairro da Paz nasceram outros bairros na área, que ao contrário dele, resultaram dos loteamentos. O distrito compreende atualmente, Novo Brasil Caetanópolis, Nova Vida, Bela vista I, Bela Vista II e Guanabara.
O seu Raimundo é casado com dona Francisca da Chagas Bezerra e com ela fundou a comunidade Católica Espírito Santo. É pai de Arinaldo e de outros filhos. Vive até hoje no mesmo lote da época da invasão e diz que não se arrepende nunca de um dia ter se mudado pra cá. “Aqui é meu lugar”, afirma Raimundo.
Os Maranhenses e o bairro - O Bairro Maranhão também traz em sua história a luta do povo pela posse de uma terra. Dona Tereza participou de todo o processo de ocupação. Antes de invadir a área ela morava de aluguel no bairro União e sonhava, como tantos outros, com a casa própria, quando foi convidada pelo ‘Parázinho’, o líder, a ocupar a terra. “ Foi no dia dois de agosto de 1992. O Parázinho me perguntou se eu tinha coragem de ajudar e eu disse que sim.Meu marido não acreditou muito e não veio. Entramos aqui cinco vezes e o Faisal tirou nós, porque a área era dele. Na sexta vez nós ficamos, eram cento e noventa e duas famílias, a polícia chegou meio dia e prendeu o nosso líder, foi então que nos unimos e fomos até a delegacia, dissemos a polícia que se o Parázinho ficasse preso a delegacia teria que caber todo mundo, nessa hora ganhamos a luta, porque a polícia desistiu”, lembra Tereza.
As primeiras ruas a serem abertas foram: A Santarém, a Eldorado e 25 de dezembro. No governo do Chico das Cortinas o bairro ganhou asfalto e um chafarz pra suprir a falta dágua. Na administração de Isabel Mesquita veio a água encanada e no governo Darci Lermem os moradores do bairro Maranhão e Maranhãozinho ganharam a tão sonhada escola. Com oito salas, banheiro para deficiente, quadra poliesportivo, sala de leitura e laboratório de informática, a escola Josias Leão Sobrinho foi inaugurada em setembro de 2007. Mas, demorou 13 anos para que a escola se tornasse uma realidade. Quem nos conta essa história e a moradora do bairro Maranhãozinho, Maria de Fátima de Sousa Pinto.
Vinda de Codó, no Maranhão, Maria Francisca conta que chegou em Parauapebas em 17 de setembro de 1990. “No dia três de julho de 2000 vim pro Maranhãzinho, fui uma das primeiras moradoras”, recorda Maria de Fátima. Segundo a moradora, a área pertencia ao pastor Severino e a uma senhora chamada França. “Foi muito tranqüilo, o dono apenas dizia que não ia liberar pra ninguém. Até hoje a prefeitura tenta comprar a área, mas falta os donos fecharem a negociação”.
A saga da escola começa a partir da fundação do bairro Maranhão. “Era muito perigoso para nossas crianças ter que atravessar a rodovia pra ir pra os colégios. Foi então que conseguimos uma extensão da escola Cecília Meireles para funcionar onde hoje, é a sede da nossa Associação. Era uma escolinha provisória e precária, mas, pela promessa só ia durar um ano, só que demorou 13. Os governos anteriores diziam que não havia área disponível para construir uma escola no B. Maranhão. Mas, a promessa foi cumprida pelo Darci que, em 2007 inaugurou a Escola Josias Leão”, afirma Maria de Fátima.
Altamira e o complexo – Localizado às margens da rodovia de acesso á ferrovia, o Complexo Altamira parece uma cidade de tão grande que é. Fazem parte dele os seguintes bairros: Altamira, Vila Rica, Betânia, Novo Horizonte, Casa Populares I e II .
Expedito Pereira Silva é natural de Pedra Branca, Ceará, chegou a Parauapebas em 1984, trazendo uma tropa de burro de Marabá. Ele é um dos pioneiros do Altamira e nos contou que a ocupação do Altamira foi rápida. “Hoje tem muita casa boa, porque vocês sabem, as cidades só começam com gente pobre, depois os ricos compra e modificam tudo”, filosofa. Em detalhes nos explicou como era a área antes da invasão. “Dos pé inchado pra cá era só mata, pra lá (lado esquerdo da rodovia na direção da ferrovia) era só roça, juquira, plantação de mandioca, arroz e água, aqui perto ainda alaga, por isso tem pedaço que não é muito bom pra morar”, lembra.
O ano ele não lembra, mas o dia sim, 04 de março. A vinda de pessoas para o Altamira foi iniciada ao final do governo do Chico das Cortinas. “O Chico instalou os Sem-Terra que estavam acampados na frente da prefeitura. Quando os agricultores se mudaram pra área da Palmares o povo iniciou a invasão”, afirma Expedito.
Segundo Expedito, em 1996, na administração da ex-prefeita Isabel Mesquita foram doados lotes para 23 famílias. “Os barracos que apareciam depois eram demolidos porque a área era da prefeitura”, explica.
A primeira rua do bairro chama-se Santo Antonio, Expedito nos falou que as ruas foram batizadas por um antigo morador que tinha mania de por nome em tudo. “Foi o finado Fafá. A minha rua ele batizou de Maria Quitéria, mas quando a prefeitura veio fazer o cadastro ano passado para recebermos o título eu disse: Rapaz é o seguinte, muda o nome dessa rua porque é muito feio, se fosse só Maria eu me conformava, mas essa tal de Quitéria, hum..hum...”, lembra-se sorrindo. A partir daí a rua passou a ser chamada de Cristóvão Colombo.
Casas Populares - Em 2004, foram entregues 360 casas populares entregues para os moradores através de sorteio. O mesmo aconteceu em fevereiro de 2006, quando na administração atual, foram entregues pela Prefeitura, por meio do Programa Habitar Feliz, 514 novas moradias cada uma com 44 metros quadrados.
O Bairro Betânia foi fundado em 04 de maio de 2000 e nasceu da esperança de um povo que fez promessa de colocar um nome bíblico no bairro caso, conseguissem os lotes. Teve o apoio da Associação dos Sem – Teto de Parauapebas (ASTP), fundada em 25 de dezembro de 1998 e contava ainda, com a ajuda da prefeitura e de outras entidades.
Estrutura e Assistência - Apesar da Associação do bairro ter organizado todo o loteamento, o Betânia sofria com as constantes invasões. De acordo com a geógrafa Tânia Brunelle, um lote chegava a ter três donos. “Para tentar resolver o problema a ASTP fez o cadastro para identificar e documentar o dono do lote, essa ação evitava conflitos”, explica. O mesmo aconteceu nos bairros Vila Rica e Novo Horizonte, surgidos na mesma época do Altamira.
A falta de água era outro problema enfrentado não só pelos moradores do Complexo como de toda a cidade. Parauapebas cresceu aceleradamente, sem que os administradores anteriores se preocupassem em ampliar o sistema de abastecimento. Em 2006, a Prefeitura Municipal construiu no bairro Betânia, um grande reservatório de armazenamento de água. “Quatro milhões de litros para atender os consumidores do Altamira, Novo Horizonte, Betânia, Vila Rica, entre outras áreas. Ampliou de três para quatro os motores de captação de água do sistema Autônomo de Águas e Esgotos de Parauapebas (Saaep), a distribuição em alguns bairros da zona urbana e instalou água nos vilas Sansão e Paulo Fonteles, Palmares II, Valentim Serra, Rio Branco e Cedere I”(Revista RP, 2006), o objetivo foi atender toda a cidade.
As reivindicações pela melhoria do abastecimento de água, coleta do lixo, construção de escolas, instalação da rede elétrica e outras, foram ouvidas durante a Assembléia do Orçamento Participativo realizada nos bairros e segundo Tânia Brunelle, 80 % delas foram atendidas.
Mas, nem só de estrutura vivem os bairros, a preocupação com o futuro dos jovens parauapebenses é necessária. No Complexo Altamira programas de assistência social beneficiam cerca de 300 crianças e adolescentes que vivem na área. O Parque Integrado de Inclusão Social da Prefeitura Municipal de Parauapebas (PIPA) proporciona diariamente, educação, lazer, esporte e alimentação para os jovens. O PIPA é formado por três programas; Espaço Criança Adolescente (ECA); Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) e a Casa de Passagem. Os jovens são acompanhados por 25 profissionais.
Durante os 20 anos seguidos a partir da emancipação do município, Parauapebas cresceu e ainda cresce. Maranhenses, paulistas, mineiros, goianos, tocantinos, cearenses, paraibanos, cariocas, gaúchos, piauienses e parauapebenses, pessoas de todos os cantos contribuem com a sua força de trabalho, com a sua esperança e luta para esse desenvolvimento acontecer. A cidade é um caldeirão de sonhos e atrai a cada dia mais sonhadores. Gente disposta a lutar por uma vida digna na cidade que hoje, chamamos de nossa, colhendo os frutos plantados pelos pioneiros e regando as árvores para as futuras gerações.
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