segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Permita-se


Ultimamente, sempre um fato novo tem tirado o meu sono. Mas, não é qualquer assunto que me faz escrever, só o que me incomoda. Uma vez me disseram que quanto mais conhecimento o homem adquire, mais distante do modo simples de vida ele está. Não concordava muito com essa tese, pois achava que o conhecimento facilitava a vida, mas depende muito da pessoa e da forma como ela encara a sociedade e as experiências que teve. Bom, alguns intelectuais, ou pessoas tidas como cultas e inteligentes, me fizeram ver que não é o conhecimento que afasta as pessoas do modo de vida simples, é a arrogância e também, uma tendência muito grande em complicar tudo. Essas pessoas acreditam que sabem de tudo e quanto mais ele cita autores consagrados, mais razão ele acredita ter sobre o que fala.
Quero dizer que – e essa é uma opinião pessoal - pessoas assim costumam construir um muro ao seu redor, uma redoma para se proteger. Pois, seus discursos são sempre negativos em relação aos das pessoas que vêem a vida de forma simples. Eles afastam os outros e passam a vê-los e criticá-los do seu pedestal, ou se mantém fora, propositadamente, do círculo social. Simplesmente porque têm medo das relações pessoais. Não querem errar, não querem se machucar – mais uma vez - e temem que seus defeitos e suas fraquezas sejam expostos – mais uma vez. E quando optamos por viver assim, deixamos de viver.
O primeiro deslize, ou sofrimento é motivo de trauma. Escondem-se, encolhem-se e vão adoecendo aos poucos, porque não aceitam correr riscos; não aceitam que os planos nem sempre dão certo; que as enfermidades podem atingir quem amamos sem que tenhamos culpa; que as pessoas são diferentes e por isso são passíveis de rótulos; que ninguém é perfeito e principalmente por isso, erra.
Para as pessoas que se dizem conhecedoras do mundo, geralmente a queda é maior, o dano é quase insuperável e leva um bom tempo para reconstruir a vida, porque o erro é sempre do outro e não seu.
Falo com certeza porque vivi isso e apesar de não ser nenhuma grande conhecedora das verdades humanas eu acreditava que sabia de tudo, ainda acho, é mania. As perguntas são sempre as mesmas: Por que eu? Eu e não o outro. Uma pessoa tão legal, honesta, trabalhadora, esforçada, dedicada, a tal... Porque dá tudo errado em minha vida? Se eu não sei, quem é que sabe?
O meu primeiro grande fracasso quase me matou. Levei mais de dois anos pra superar a perda, não de um casamento, mas de um plano de vida perfeito. Culpei a todos, perdi meu tempo e esqueci de mim. Sofri por algo que não tinha conserto.
A duras penas e com a insistência das pessoas que se importam comigo, aprendi que essa superação dependia, exclusivamente, de mim mesma. A minha resistência foi substituída por uma incrível vontade de viver, de querer ver minha filha crescer e o recomeço foi o meu caminho. Aos poucos a depressão foi trocada pelas coisas simples da vida como um bom papo com uma amiga, um filme bacana, ver minha filha brincar, fotos em família, ouvir um passarinho cantar – besta mais é verdade - sentar em uma roda de violão e junto com os velhos amigos lembrar do passado, parar na faixa pro pedestre passar e fazer uma boa ação sem esperar nada em troca.
Devagarzinho fui deixando de me preocupar com os problemas alheios e passei a me enxergar. E se alguém discordar de mim, que me convença do contrário; que viva o que eu vivi e que supere; que reconstrua a sua vida como eu faço todos os dias quando acordo; que me considere uma romântica enquanto acredito que estou tentando fazer o melhor pelo mundo.
Cansei de viver ilusões e teorias. Vivo o simples e o hoje. Amo as pessoas sem nenhum interesse e sou até hipócrita, às vezes, quando um ranço de mim não tem paciência pra entender o meu próximo – porque eu ainda acho que sei tudo – e ai eu estouro e sofro por ter feito tudo errado, caindo em depressão e me levantando logo em seguida, pois sei que ninguém gosta de pessoas depressivas e eu quero ser amada, admirada, parabenizada...
Pra me recuperar peço força e proteção a Deus, não sou religiosa, mas tenho fé e não culpo mais Ele por não atingir meu objetivo. Eu sei que somente eu, posso perdoar, amar, sofrer, querer, odiar e ignorar que existem outras saídas fazendo de conta que não tenho mais idade pra recomeçar, entregando os pontos declarando a minha morte social, emocional e espiritual.
Eu sou responsável pelas minhas escolhas e eu escolhi viver. Tento me aprimorar, tento ser melhor, tento não ser hipócrita e nem culpar ninguém, nem mesmo a mim por ter feito escolhas erradas no passado. Isso acontece com qualquer um pois, ninguém tem o poder de prever o futuro e nem de controlar as enfermidades. Simplesmente, pra mim, voltar atrás não é vergonhoso é ter coragem. Permito-me ser feliz um dia de cada vez. Se não for assim, então porque estou aqui?

Moral da história: Com toda adversidade que vivi estou mais forte, mas nem por isso sou imbatível. Eu não desisto de mim.

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