sexta-feira, 18 de junho de 2010

Os sonhos

Quando se é criança a gente sonha com o que há nas nuvens. Nos imaginamos correndo e tropeçando, caindo e se misturando naquela brancura infinita. Tudo é lindo e fofo. Ah... como é bom ser criança! Nos permitimos vivenciar os momentos sem jamais pensar no quanto eles farão falta. Coisas simples como jogar bola, desenhar livremente, brincar com a bonequinha de pano e rir do palhaço sem graça e careca - que traz em sua roupa velha intenções de alegria - ficam marcados para sempre. E nós, pequenas e ingênuas crianças só nos damos conta dessa felicidade de ser menino ou menina, quando crescemos.
E quando crescemos e descobrimos de que são feitas as nuvens, não temos mais tempo para brincar, nem sequer sonhamos mais com o circo. A vida colorida do desenho sem compromisso fica cinza, carregada de problemas e marcas. As cicatrizes não saram, não são como na infância. As dores não passam, as quedas são maiores, as decepções nos fecham em mundos amargos, submersos na desesperança, no medo e na ignorância.
Nada é simples, tudo é real demais e os sonhos sempre são materiais. As pessoas não se entendem, não se querem, não se conquistam, não se abrem, constantemente se perdem e os sonhos não têm mais sentido.
Quando se é criança se é feliz porque não perseguimos a felicidade. Quando se é adulto acredita-se que a felicidade é vendida em pequenos frascos e nada como dinheiro para comprá-la.
Já quis tanto arriscar depois que cresci. Já quis voar, mas meus pés estão presos no chão. Eu tenho medo confesso. O medo que não tinha quando era criança. O medo que não tinha aos 17, o mesmo medo que tomou conta de mim aos 27. Tem gente que diz que esse medo tem a ver com maturidade, tem a ver com saber lidar com aquilo que é real e certo. Tem a ver com juízo e dinheiro. Tem a ver com o processo natural do ser humano. Eu tento me convencer disso, mas, acho que tem a ver com infelicidade.
Quando se é criança, sonhamos ser livres. Quando se é adulto, nos enclausuramos e matamos a cada dia os sonhos que nos fazem bem.
Eu queria muito realizar. Mas, que sonhos? Falo de sonhos e não das regras do nosso manual de sobrevivência. Esse livro cinza, velho e sem graça.

Nenhum comentário: