domingo, 9 de março de 2014

O 'leão' está faminto.

    A Receita Federal deu início ao prazo para que os brasileiros declarem o imposto de renda. Um mês e 20 dias para informar o governo sobre os ganhos, se é que podemos chamar de ganhos, obtidos durante o ano de 2013.
  Quem recebe em média até 2 mil 138 reais por mês - somando-se a esse valor férias e décimo terceiro , totalizando R$ 25.661,70 é isento da declaração. Que tal agradecer ao governo por nos livrar de mais um imposto? Não.
  Pois, ainda sim, esses trabalhadores - em sua maioria de carteira assinada - são obrigados a pagar 9% do que ganham para o INSS, ou seja, cerca de R$ 192,46 restando apenas R$ 1.946,01.  As alíquotas variam entre 8 e 11%. Se o ganho for maior, entre R$ 2.195,13 a R$ 4.390,24 vai pagar a alíquota máxima do INSS e também é enquadrado entre as duas alíquotas do imposto de renda, 22,5% e 27,5%. 
  Vamos calcular?
  Digamos que sua renda é de R$ 2.500  bruto, 275 reais são recolhidos para o INSS, pelo cálculo do IR serão R$ 280, 94 ao final, se não houver outro desconto, o salário líquido fica em R$ 1.944,06. O trabalhador paga ao governo R$ 555,94 para continuar trabalhando. No salário mínimo é descontado apenas o INSS, são 8%  R$ 57, 92 a menos em um salário que não é grande coisa para quem ganha, mas é um problema para quem paga.
 Quanto ao INSS, é um mal necessário, afinal, que cumpre as obrigações com o Seguro Social o faz mediante a promessa de uma aposentadoria que por lei estaria garantida, mas na prática é uma dor de cabeça para quem precisa.
   Por falar em salário, em fevereiro desse ano o DIEESE - Departamento Intersindical  de Estatística e Estudos Socioeconômicos - divulgou alta na Cesta Básica de algumas capitais brasileiras que variam entre 5,49% e 2,21% e algumas retrações no custo dos  gêneros alimentícios que não aliviam em nada a vida de quem ganha até o teto de isenção do IR.  
   O departamento divulgou,  inclusive, que salário mínimo necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas deveria equivaler a R$ 2.748,22, 3,8 vezes maior do que o mínimo de R$ 724,00, que entrou em vigor em 1º de janeiro.
   O DIEESE foi fundado em 1955 para desenvolver pesquisas que fundamentassem as reivindicações dos trabalhadores. Quase 60 anos depois tenho a impressão de que o governo não se interessa muito por essas pesquisas. Pois, supondo que fosse esse o valor do salário mínimo e o governo mantivesse a alíquota atual do imposto de renda  este trabalhador não escaparia da 'mordida do leão'.    
   Atualmente, quem recebe a partir de 2.679 reais é obrigado a deduzir 15% o valor vai direto para os cofre do governo. É a lógica absurda do 'quem ganha mais paga mais'.  Quem tem a 'sorte'  de receber acima de R$ 4,464 a dedução é ainda maior, 27,5%.
   A verdade, isso não é novidade pra ninguém, é a de que nós pagamos um preço muito alto por ser brasileiros. Somos espoliados diariamente e descaradamente por um governo que prega que o 'Brasil é um País de Todos'.  De todos? Não. De uma minoria. 
  Alguém poderia me explicar como não me sentir roubada quando pago duas vezes um imposto como é o caso do IPVA? Pago para o governo do estado e sem nenhuma dedução pago novamente, só que agora ao governo federal. O mesmo se aplica ao IPTU. 
O brasileiro que ganha acima do teto de isenção do imposto de renda e tem um carro e uma casa é condenado a pagar duas vezes como se fosse um castigo. Mesmo que você tenha filhos e que o governo considere as deduções de R$ 2.156,00 por dependente e o limite de R$  3.230,46 com educação, nada justifica o "assalto legal" ao bolso de trabalhador brasileiro.
   Você paga imposto da hora que levanta até a hora que vai dormir e o retorno está aí, ruas, estradas, transporte, segurança, hospitais e escolas públicas de péssima qualidade. Se o povo vai à rua protestar é o próprio povo quem paga o pato, se fica em casa e aceita continua pagando, se não pagar os juros são altos, seu nome vai para a Dívida Ativa da União e até para sonhar fica mais difícil.
   O pior é aquela sensação de não poder fazer nada. Estamos acorrentados a um sistema que nos empurra goela abaixo a obrigação de sustentar o privilégio de poucos às custas do sangue e suor dos muitos outros.  
   O prazo para a entrega da Declaração Anual de Imposto de Renda termina dia 30 de abril. E como diria um amigo: "Tem que pagar, não tem jeito!"



 







Nenhum comentário: