segunda-feira, 12 de maio de 2014

As chuvas de maio

   A primeira tragédia das chuvas de maio aconteceu na madrugada do dia 05 com o deslizamento de uma casa que estava em área de risco no bairro do Coroadinho. Tragédia que tirou a vida de uma adolescente de 12 anos e destruiu uma família. Tragédia anunciada e que não foi a única, já que nos dias seguintes a chuva continuou a cair na capital e o que se viu nos últimos dias, só pode ser visto nos anos anteriores em bairros, ou ocupações, que até então não eram de interesse da maioria.

   Vocês lembram o que aconteceu na Apaco no ano passado? A mesma coisa que aconteceu ano passado naquela região pobre e desassisada que fica na "Ilha Magnética" e atingiu este ano indiscriminadamente, dezenas de bairros de São Luís. Um verdadeiro terror consumado na noite do último sábado, mas que pode ser repetir a qualquer momento. Culpa da administração atual? Não. Sejamos honestos e assumamos, também, a responsabilidade.

   Há, nesse caos, a participação de todos nós. De uma forma ou de outra, contribuímos com a nossa omissão, com a nossa falta de educação e bom senso, com a ocupação desordenada, com o nosso egoísmo, com a mania que venho tratando em várias postagens deste blog, de culpar quem está no poder e com o nosso voto vendido pela expectativa de um emprego, um milheiro de telha, R$ 50,00, um botijão de gás e por favores imediatos que podem não significar nada no momento em que o voto é vendido, mas que em 4 anos podem trazer consequências ruins para a cidade.

   A Prefeitura é responsável sim, mas o cidadão que joga lixo na rua e nos córregos por achar que está longe da casa em que ele vive com a família é culpado. Ocupar encostas é um risco mais que conhecido, construir prédios de alto padrão em áreas de dunas também. Morar em área de península é       "chique" e para poucos? Sim. É privilégio de uma minoria que, ou se ilude pelo status ou pela satisfação cega de merecimento, ou nem pensa que ao comprar um apartamento construído em área irregular se torna cúmplice de crime contra o meio ambiente. Pois,  não podemos esquecer que a força da natureza é incontornável  e devastadora.

   Do Coroadinho ao Renascença, da Cohama a Cidade Operária, neste sábado véspera do dia das mães, todos sentiram o quanto os bens materiais e a própria vida são efêmeros.

Houve quem perdesse o carro, o tempo, o penteado, as mercadorias, mas também quem perdesse uma vida inteira. Nos bairros mais pobres as águas de maio tomaram conta das ruas e tamparam os buracos que há tempos empenam e cortam os pneus dos carros. A lama sujou ainda mais a dignidade de quem já havia perdido a crença nas instituições, cujo papel é de apenas manter a ordem, a limpeza, a saúde, a educação, a mobilidade e as garantias mínimas e  necessárias para sobrevivermos.

   Nós - eu, você, o teu vizinho - somos os culpados e portanto, devemos cobrar de verdade, devemos fiscalizar e exigir que cada ente (município, estado e país) cumpra o dever que lhes foi imputado por lei. Nós - eu, você, teu vizinho, o vizinho do teu amigo de trabalho e o teu amigo de trabalho - somos a parte mais importante dessa cidade . Precisamos apenas nos conscientizarmos disso.

   Vocês sabem quando o pobre que mora em área de risco sai de lá? Quando a casa desaba. Eles sabem que a miséria do aluguel social não ajuda, porque além de ser um valor irrisório é burocrático.

   E você ? Quer viver do aluguel social? Não? Então  está  na hora de assumir o seu papel de cidadão e fazer valer o seu voto, antes que a natureza resolva cobrar mais uma vez o preço da sua omissão , pois quando ela cobra, cobra caro.

   Hoje o tempo está fechado.




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